O que o incêndio na Catedral de Notre-Dame de Paris nos pode ensinar sobre seguros?
Em 15 de abril de 2019, o mundo parou diante das imagens chocantes da Catedral de Notre-Dame de Paris em chamas. O incêndio, que destruiu parte significativa do telhado e levou ao colapso da emblemática agulha, foi um lembrete brutal de como mesmo os patrimónios mais protegidos estão sujeitos a riscos — e de como o mundo dos seguros atua nos bastidores de eventos como este.
Cinco anos depois, a catedral foi finalmente reaberta ao público. Mas há uma pergunta que continua sem resposta definitiva: o que causou o incêndio?
O que se sabe até hoje?
As investigações oficiais concluíram que o incêndio foi acidental, mas não conseguiram determinar a causa exata. Uma das hipóteses mais levantadas — embora nunca comprovada — aponta para os chamados trabalhos a quente (soldagem, corte ou uso de maçaricos) realizados durante a obra de restauro do telhado.
Mesmo com a negativa da empresa responsável de que tais trabalhos tenham ocorrido no dia do incêndio, a hipótese foi suficiente para abrir um debate profundo no setor: estamos preparados para prevenir este tipo de risco em obras? E, mais ainda: estamos devidamente protegidos em caso de sinistro?
Seguros e prevenção: onde entra o nosso setor?
Pouco se fala no papel decisivo que as seguradoras e mediadores desempenham em situações como essa. No caso de Notre-Dame, os seguros tiveram função crucial:
- Na avaliação de responsabilidade civil entre empreiteiros, subempreiteiros e o Estado;
- Na cobertura de danos ao património edificado e ao seu conteúdo;
- No apoio à reconstrução, através de apólices públicas e privadas;
- Na implementação de melhores práticas de segurança, principalmente em contextos de obras com elevado risco.
Obras de restauro, especialmente em edifícios antigos, têm um risco agravado de incêndio — e os trabalhos a quente são uma das maiores fontes desse risco. Por isso, muitas apólices exigem:
· Autorização escrita antes de qualquer trabalho com chama aberta;
· Monitorização contínua (incluindo após a conclusão do trabalho);
· Identificação prévias por escrito de zonas interditas de trabalho a quente dentro da empresa;
· Extintores e meios de primeira intervenção no local.
O que Notre-Dame nos ensina?
Mesmo sem uma causa confirmada, a tragédia deixou lições valiosas:
- Seguros especializados são indispensáveis em contextos de reabilitação e restauro;
- Prevenção é tão importante quanto proteção — protocolos de segurança, planos de contingência e boas práticas fazem toda a diferença;
- Cada projeto tem riscos únicos — e é papel do mediador garantir que o seguro contratado está adequado à realidade da obra, do imóvel e da operação.
E em Portugal?
Com o aumento de projetos de reabilitação urbana, restaurações históricas e valorização do património, é essencial que as empresas, os proprietários e os gestores de obra estejam conscientes dos riscos associados — e de como um seguro mal desenhado pode sair muito caro.
Se uma catedral com 850 anos pôde ser parcialmente destruída por uma falha de segurança, o que isso nos diz sobre os riscos nos nossos próprios projetos?
A história de Notre-Dame não é apenas uma tragédia: é um alerta. E os seguros, quando bem desenhados e acompanhados, são uma parte essencial da solução.